Falar de La La Land é falar da história de Hollywood. O filme de Damien Chazelle, que vem impressionando plateias pelo mundo todo, consegue entrar para a história do cinema desde sua concepção inicial.
Na década de 1970, com a baixa moral americana causada pela guerra, o cinema musical foi perdendo seu espaço nas salas de cinema para dar lugar a filmes mais viscerais e realistas, que refletiam o estado de espírito da sociedade da época. Por diversas vezes houve a tentativa de retomar o gênero, mas em meio a produções de baixa qualidade ou desinteresse do público, o cinema musical ficou restrito a um nicho. Conhecendo essa história, é impressionante pensar que em algum momento Chazelle resolveu que, em uma das épocas mais instáveis e de baixa moral das últimas décadas, a solução talvez fosse reviver aquela alegria de outrora.
Em um cenário repleto de notícias de instabilidade política, loucos governantes e ataques terroristas, somos presenteados com 120 minutos em um mundo colorido de esperança, amor e poesia e é exatamente disso que precisávamos. Damien sabe tão bem o que está fazendo que ainda alivia nossa transição na cena inicial com uma tomada contínua das rádios dos carros sendo abafadas pela melodia alegre que estaria para começar.
Essas cenas contínuas (ou planos-sequência), que não são só uma marca do longa, mas de todos os musicais da era de ouro, representam também uma retomada artística e estética do que no passado tornou o gênero tão popular. Quando os primeiros musicais teatrais começaram a tomar o cinema, existia um grande debate sobre a dificuldade de se adaptar grandes números para a tela. A solução na época foi evitar cortes e manter um plano geral aberto, na tentativa de simular nossa visão em um teatro. Com o passar dos anos e a mudança do cinema, os números musicais foram ganhando cortes, ângulos fechados que escondem o cenário (cof cof les mis cof cof) e as câmeras digitais finalmente conseguiram dar a cara do cinema contemporâneo aos musicais.
Até La La Land chegar e nos relembrar que o que era feito antigamente tinha seu valor e, na maioria das vezes, muito mais sentimento. E sentimento é a base dessa obra que conta uma história de amor ao mesmo tempo em que nos explica o que é o jazz na sua própria trama. Preste atenção na explicação que Sebastian dá para Mia sobre como funciona o jazz, ele está apenas nos contando a história do filme que estamos vendo, do começo ao fim.
Mas a obra não estaria completa sem a linda música de Justin Hurwitz, responsável também pela trilha incrível de Whiplash, e pelas letras da dupla teatral Pasek e Paul. As canções do trio vão nos carregando a cada estação da história e crescendo junto com o relacionamento dos personagens, quase como se tudo fosse orquestrado para encontrar pontos emocionais em cada um de nós.
Além disso, foi muito bem planejado o uso de referências pelo filme, não só cinematográficas, mas também teatrais. Por toda a internet já existem diversos vídeos e matérias comparando cenas e temas com filmes e composições da era de ouro, demonstrando outro grande trunfo da produção: conseguir remeter sutilmente ao fator nostalgia em cada um de nós ao mesmo tempo em que apresenta algo novo e vivo.
E as atuações de Emma Stone e Ryan Gosling contribuem muito para isso, já que os dois representam essa nova face do cinema: jovens talentosos e comprometidos que querem ser melhores profissionais, que estão dispostos a aprender piano, sapateado, canto e o que mais precisarem para contar uma história.
La La Land resgata o passado para trazer aquilo que pode ser o futuro do cinema, e tudo isso vindo das mãos de um jovem diretor, produzindo apenas seu segundo filme.
Não concorda comigo? Acha que é muito barulho por pouca coisa? Não tem problema, cada um tem seu gosto e seu momento, e nem tudo toca a todos da mesma forma, mas peço apenas uma coisa. Se puder, tente ver La La Land como todos devemos assistir a filmes: desligando-se do mundo exterior e focando apenas no que está acontecendo na tela. Quem sabe se desprendendo do mundo, você possa deixar o seu tolo sonhador voar.
Já viu o filme? Então aproveite e reviva essa trilha maravilhosa no player abaixo: